terça-feira, 22 de maio de 2012

VIDA LONGA É SINAL DE DESAPEGO; GUARDAR OFENSAS ACUMULA AMARGURA

Algum tempo atras comecei a pensar na ideia de viver muito. Sentia-me feliz e acabei nutrindo profundo desejo de perpetuar a sensação por longos anos. Nesse período busquei meios que pudessem me conduzir ao futuro mais distante possível ao ser humano. Estimulado pela maldição do éden1, comecei a imaginar como seria viver 120 anos e assim permaneci em silencio cultivando meu sentimento. Os anos passam, as dores da vida aparecem, mas no fundo o sentimento sempre esteve lá. Praticas de posturas físicas, meditação, alimentação nutriente se tornaram, para minha ideia de longevidade, o único caminho acessivel. Assim passei os últimos dez anos. No ultimo reveillon vivi uma rica experiência, estar ao lado de meu pai no momento de sua passagem. Dia 31 de dezembro, luzes na cidade, volto do crematório. A partir dessa data a ideia de viver 120 anos tomou forma concreta, a morte do meu pai teria sido ha 80 anos. Quem muito vive enterra todos seus conhecidos, toda cumplicidade da memória. Pensei como seria isso, a saudade daria lugar a devoção, porque saudade mata, devoção acalma. Meu pai seria como Zeus, Jesus ou Krishna, algum personagem muito importante, a ponto de nos influenciar o comportamento, mas deixamos de sentir falta de sua presença física. Pensei então sobre o desapegar, desapegar das pessoas, desapegar das ideias velhas para surgirem as novas ideias, desapegar da ideia de longevidade. Desapegar de tudo, desapegar do momento passado para viver o momento presente. Desapegar do sucesso, desapegar do fracasso, desapegar dos sentimentos, desapegar das verdades e desapegar das mentiras. Restou assim, viver o agora como eterno, observando o presente de respirar. 


1 nota  de roda pé .  Genesis 6, 3

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